sexta-feira, 25 de abril de 2008

Room 458


Falta pouco para a hora marcada, 17h30. O trânsito lento característico do final do dia parece ficar cada vez mais sufocante. Chegando ao hotel, de alto nível para este tipo de encontro, me passo por hospede e aperto o sexto andar. Um pouco desorientado pela quantidade enorme de portas semelhantes, acho o número 687.

Este talvez é o momento de maior excitação, pois a voz e fotos pouco semelhantes a realidade combinados com a imaginação se transformam em uma pessoa de carne e osso. Ufa! Não foi um engano, apesar do aparelho nos dentes que por momento algum imaginei e do cabelo menos brilhante, a garota era muito atraente.

A inibição inicial foi sendo preenchida por uma conversa forçada para parecer que nos conhecíamos a algum tempo. Apesar de deixar de lado perguntas intimas que elas estão acostumadas a responder como “o tamanho é bom” ou “as vezes é rápido mesmo”, não pude deixar a curiosidade de lado e descobrir o porquê deste trabalho. A resposta foi a esperada, mas ouvindo foi diferente, sem ser comovente, mas interessante.

Moça bonita do interior do Rio Grande do Sul queria sair da vida e cidade pequena e, atraída por contatos, desembarcou em Curitiba. Cidade bonita, gente legal, festas, homens com dinheiro e pronto. Foi um pulo. O problema agora é largar. Segundo Mônica o dinheiro vai para a faculdade, mas parece não ter pressa de concluir.

Programas são diários, intercalados com viagens para o litoral ou para festas afastadas que duram o final de semana. Os estudos ficam um pouco de lado, já que também é preciso malhar na ginástica para manter tudo em cima.

A saudade também pesa. “Sinto falta da minha família que ficou lá no sul. Dos meus amigos, mas fazer o que?” Apesar do tema difícil e da desconfiança de muitos, os programas que faz são escondidos dos familiares. “Estou fazendo faculdade. É tudo que eles precisam saber”, desabafa, mostrando fragilidade.

Não que não seja uma garota comum na saúde dos seus vinte e poucos anos, mas ela não é. Deixando o preconceito, algumas roupas e maquiagens para trás, podia ser a namorada. Linda, educada, estudada, sensível... Mas existe o tal programa, que afasta Mônica de ter uma vida normal e sem mistérios.

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